Preço faz passageiro trocar avião por ônibus
O aumento do preço das passagens
aéreas, principalmente as adquiridas com pouca antecedência, tem levado
passageiros de volta às linhas de ônibus. O crescimento do volume de
viajantes rodoviários começou em setembro. E, em outubro, as companhias
chegaram a registrar volumes até 20% superiores aos do mesmo período do
ano passado.
Na linha SP-RJ, a mais movimentada do país, com 2 milhões de
passageiros/ano, houve 15% mais passageiros no mês passado em relação a
outubro de 2011.
O movimento inverte uma tendência dos últimos anos. Desde 2010, já havia
menos gente viajando de ônibus entre Estados do que de avião nos mesmos
trechos no país.
Não há dados consolidados que mostrem a retomada dessa expansão. Desde
2011, a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), responsável
pelo controle, não considera mais os números enviados pelas empresas. Só
voltará a fazê-lo após a licitação das linhas interestaduais, prevista
para 2013.
A estimativa registrada na licitação é que em 2010 houvesse 55 milhões
de passageiros nas chamadas rotas rodoviárias entre Estados (em que
passageiros não podem viajar em pé), as que competem com o aéreo.
Já os passageiros de avião chegaram a 80 milhões em 2011, segundo a Anac
(Agência Nacional de Aviação Civil), sendo que 94% viajam em trechos
que competem com os rodoviários interestaduais.
Menos promoções
Empresários do setor rodoviário apontam que o crescimento foi mais
significativo nas linhas de distância entre 500 e 1.000 quilômetros.
Como podem ser feitas em tempo competitivo com o gasto para pegar o
avião, têm passageiros mais frequentes. Quando há reajuste de tarifa
aérea, reagem mais rápido.
Em relação a março de 2011, as passagens aéreas mais baratas estão sendo
vendidas por até o dobro do preço.
Naquele mês, alguns trechos eram mais baratos de avião que de ônibus.
Os relatórios da Anac mostram números até junho, quando estavam
praticamente nos mesmos valores do ano passado.
Leonardo Marques, criador do site Melhores Destinos, que faz comparação
de preço, diz que não é possível estimar o quanto subiram as tarifas.
Mas não há mais as promoções de antes, afirma:
"A Gol fez duas grandes promoções por mês no ano passado. Neste ano não
fez nenhuma tão agressiva quanto as de 2011 e também reduziu a
frequência para uma vez por mês. Com a TAM, a lógica é a mesma",
afirma.
A redução nas promoções pode ser explicada pelo aumento de custos das
companhias aéreas, que redundou em prejuízos nos balanços mais
recentes.
Tarifa em queda
Ronaldo Jenkins, diretor de segurança e operações da Abear (Associação
Brasileira das Empresas Aéreas), diz que o setor não tem registro de
perda de passageiros e que as tarifas estão em queda.
Jenkins citou o IPC da Fipe, que registrou queda de 8,98% no preço das
passagens na terceira semana de outubro. A leitura foi feita após o
feriado do dia 12, quando as passagens sobem naturalmente. O IPC
registra as passagens na cidade de São Paulo.
O fator preço ajudou. Mas os empresários de ônibus apontam que, desde o
início da queda, as companhias estão melhorado o serviço. Entre São
Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, os ônibus têm Wi-Fi gratuito.
"Investimos fortemente em melhoria, com ônibus novos e de alta
qualidade. Uma parcela das pessoas já está vindo por estar viajando com
mais conforto", afirma Marcelo Antunes, diretor da JCA, grupo
controlador de empresas como 1001 e Cometa.
Outro fator que pode estar estimulando a reação é a retirada pela ANTT
das linhas da Transbrasil, considerada pelo órgão uma empresa
clandestina que operava com liminares baseadas em documentos
falsificados, conforme a Folha mostrou em 2011.
Na linha São Paulo-Rio de Janeiro, a Transbrasil tinha dois ônibus
diários, enquanto suas competidoras tinham em média quatro
horários. Algumas aumentaram a frequência em uma ou duas viagens.
A agência acusava a empresa de obter liminares para linhas em que não
operava --como uma do Acre ao Ceará, com mais de 6.000 quilômetros para
vender a donos de ônibus o direito de transportar em trecho da linha. As
liminares foram revogadas. A empresa nega as acusações.
Fonte: Folha de São Paulo